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A economia Brasileira está saindo da recessão ?


Percepção geral é que ainda continuamos na crise, e pouca gente tem se animado a se programar para soltar rojões no ano novo.

Mas, como a BBC Brasil mostrou, há fortes indícios que a nossa economia já bateu os pés no fundo do poço e está retomando um novo ciclo de crescimento que espero não venha a ser um novo “voo de galinha” e tudo venha a andar prá trás em algum tempo. Já vi este filme várias vezes e acho que já tem mais reprises até que qualquer um dos filmes da série “duro de matar”

A BBC Brasil, publicou hoje 01.12.17, uma interessante análise que dá indicações que estamos começando a sair do atoleiro que entramos em 2015.

Por que a sensação de crise persiste mesmo com a recuperação da economia?

BBC Brasil

Aumento da produção e da importação de maquinário estão entre os bons sinais que a indústria vem dando nos últimos meses | Foto: Ricardo Almeida/ANPr

A economia brasileira voltou a crescer em 2017. Entre julho e setembro, o Produto Interno Bruto (PIB) avançou pelo terceiro trimestre seguido em relação aos três meses anteriores, 0,1%, e 1,4% sobre o mesmo período de 2016. Tecnicamente, a recessão ficou para trás. Mas por que a recuperação da atividade é tão lenta e a sensação de crise ainda é predominante para muitos brasileiros?

A profundidade da recessão e suas particularidades em relação a outros ciclos de retração, como o endividamento de empresas e famílias, ajudam a explicar o ritmo. Em quase três anos, a economia encolheu mais de 8% e retrocedeu ao nível de 2010.

Com o resultado positivo divulgado nesta sexta-feira pelo IBGE - que trouxe também uma revisão para cima dos dados do primeiro e do segundo trimestres, altas de 1,3% e de 0,7%, nessa ordem - voltamos a 2011, mas só em 2020 a atividade retornaria ao estágio observado logo antes da crise, segundo estimativas de economistas ouvidos pela BBC Brasil.

o fator que dificulta uma retomada acelerada são os investimentos. As incertezas políticas que engrossaram o caldo da crise econômica têm feito com que as empresas segurem os projetos na gaveta. O nível elevado de capacidade ociosa - de máquinas paradas por causa da queda nas encomendas, por exemplo - contribui.

A primeira reação, tímida, apareceu nos números do terceiro trimestre. Depois de chegarem a 15,3% do PIB, o menor resultado da série disponibilizada pelo IBGE, que começa em 1995, os investimentos subiram a 16,1% do produto.

O emprego também vem registrando números melhores. Mesmo assim, o país ainda contabiliza mais de 12 milhões de desempregados - e é esse dado que explica em grande parte porque, para muita gente, a crise continua.

"As pessoas tendem a ter uma percepção muito negativa do futuro ao final de uma recessão, o que faz com que não percebam que a economia já está em recuperação - e uma percepção muito otimista no final de uma grande expansão, o que faz com que não prevejam a recessão iminente", pondera Marcelle Chauvet, professora da Universidade da California Riverside e especialista em ciclos econômicos.

Recessão de balanço

O Brasil experimentou um avanço do crédito sem precedentes entre 2003 e 2014, lembra a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Margarida Gutierrez.

O aumento do endividamento de empresas e famílias nesse período - uma dinâmica que não havia sido observada antes das outras oito recessões que o Brasil teve desde 1981 - ao mesmo tempo em que contribuiu para o crescimento no ciclo de expansão, comprometeu a capacidade de consumo e de investimento durante a crise e na saída dela.

"É o que a literatura chama de balance sheet recession, recessão de balanço", destaca.

© BBC Em ciclos de recuperação, o emprego é a variável que reage de forma mais defasada, especialmente aquele com carteira assinada | Foto: Pedro Ventura/Ag. Brasil

O peso do consumo das famílias no PIB recuou por dois anos consecutivos. Cresceu 0,2% no primeiro trimestre de 2017, 1,2% entre abril e junho, com a ajuda da liberação dos saldos inativos do FGTS, e outros 1,2% de julho e setembro.

Depois de um longo inverno digerindo as dívidas, o orçamento das famílias começa a dar sinais de que ganha espaço para o consumo. Acompanhados pelo Banco Central, os níveis de endividamento e de comprometimento da renda têm melhorado nos últimos meses - o primeiro estima a dívida em proporção à renda anual e o último, a parcela do rendimento mensal destinada ao pagamento dos débitos.

A redução dos juros ao longo deste ano tem um efeito positivo duplo, ainda que defasado: ele barateia as novas concessões de crédito e pode aliviar as parcelas de dívidas mais antigas.

"O consumo das famílias será o motor da retomada", diz o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), José Ronaldo de Castro Souza Júnior.

O caminho, contudo, é longo. Neste ano, a economia deve crescer 0,7%, estima o órgão. Com a alta de 2,6% projetada para 2018, diz o diretor, seria preciso que a economia avançasse expressivos 4,3% em 2019 para voltar ao nível pré-crise.

Investimentos

Os efeitos da política monetária expansionista - a redução da taxa Selic pelo BC ao longo de 2017 - também devem se manifestar sobre os investimentos, o componente que mais recuou no PIB durante a crise.

Os primeiros sinais apareceram nos números que o IBGE divulgou nesta sexta-feira. A chamada Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) cresceu 1,6% no terceiro trimestre quando comparada com os três meses anteriores, depois de um mergulho de 14 trimestres no vermelho e de ficar no zero a zero no segundo trimestre.

© Getty Images Fim das recessões é geralmente marcado por percepção negativa sobre futuro, diz especialista em ciclos econômicos

A avaliação de que o cenário à frente é de melhora é sustentada pela recuperação da produção industrial - que, apesar de contabilizar alta modesta no acumulado de 2017, de 1,6% em relação ao mesmo período de 2016, aumentou em sete dos nove primeiros meses do ano - e pela retomada das importações de bens de capital, acrescenta Jankiel Santos, economista-chefe do banco Haitong.

Ele também estima alta de 0,7% para o PIB neste ano e algo entre 1,5% e 2% para 2018.

Apesar de as fábricas ainda terem muitas máquinas paradas e trabalhadores afastados, a indústria vem realizando investimentos para repor a depreciação que os quase três anos de crise impuseram a seus ativos físicos. "Não será nada incrível", ressalva Santos, mas o suficiente para mudar a trajetória do indicador, até então negativa.

Sensação de crise

Comemorados pelo governo, os números não chegam a animar a maioria.

"O brasileiro ainda não sente que houve retomada da economia", diz Danilo Cersosimo, diretor da Ipsos Public Affairs.

A consultoria é responsável pelo Índice Nacional de Confiança do Consumidor, publicado mensalmente pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), um termômetro da percepção das famílias sobre a atividade. Em novembro, o indicador caiu de 73 pontos para 72, ainda longe do nível de 100 pontos, que indica otimismo.

Para o sociólogo, o mercado de trabalho explica parte do pessimismo. A taxa de desemprego vem cedendo nos últimos meses, mas ainda há 12,7 milhões de trabalhadores tentando recolocação e quem está empregado ainda se sente inseguro.

Na pesquisa, os indicadores relacionados a segurança no emprego estão praticamente no mesmo patamar há dois anos.

"Nós publicamos a pesquisa desde 2005 e percebemos que o desempenho da inflação e desemprego são os que mais influenciam o otimismo dos consumidores", diz Marcel Solimeo, economista-chefe da ACSP.

Tradicionalmente, o emprego é uma das últimas variáveis a esboçar reação durante os ciclos de expansão, porque reage de forma defasada, explica Chauvet. As firmas só começam a contratar funcionários para trabalhar em tempo integral, com carteira assinada, quando a recuperação se torna mais forte. "O aumento de horas (extras) ou de empregados por tempo parcial é uma estratégia mais segura para firmas quando ainda há incerteza sobre o rumo da economia no início de uma recuperação", pondera.

 
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